O amargo gosto da guerra
Hamilton cobriu a Guerra do Vietnã durante 40 dias |
Em 1968, o repórter José Hamilton Ribeiro foi escalado para
cobrir a Guerra do Vietnã pela revista Realidade.
Nenhum correspondente brasileiro havia ido até o país, e Hamilton aceitou o convite
feito pelo veículo de comunicação. Batalhou para conseguir o visto e
instalou-se, inicialmente, em Saigon, capital do Vietnã do Sul, poucos dias
depois da ofensiva do Tet, que deixou arrasada a cidade.
Hamilton foi enviado para cobrir 40 dias da guerra, mas, convidado pelo
fotógrafo Shimamoto a ficar mais um dia, permaneceu para acompanhar uma missão das tropas
americanas na Estrada Sem Alegria. A ida trouxe uma grande consequência para o jornalista: a perda da perna esquerda. O acidente o levou a questionar diversos assuntos, incluindo a profissão, durante o tempo em que ficou internado. Em contrapartida, o repórter de guerra é, ainda
hoje, considerado um dos maiores profissionais da imprensa brasileira. Suas
experiências culminaram no livro O Gosto
da Guerra, relançado em 2005 pela editora Objetiva.
Durante sua estada no Vietnã do Sul, Hamilton apresentou
detalhes do comportamento dos soldados americanos, analisados por ele nos
quarenta dias em que ficou hospedado nos quartéis dos estadunidenses e foi, por
eles, escoltado em missões e investidas contra os vietcongues. Cumprindo a
regra jornalística que determina a necessidade de escutar os dois lados para a
produção de uma reportagem, ele tentou ir ao Vietnã do Norte, mas a viagem foi impossibilitada porque lhe foi negado o visto. Nas memórias do repórter, entretanto, são narradas histórias relacionadas à ocasião e ao rápido encontro do homem com um vietcongue.
As narrativas da guerra oferecem um panorama sobre o
conflito que se estendeu de 1955 a 1975 e, também, sobre a cultura e costumes
locais. A luta das mulheres ao lado dos vietcongues e da Frente Nacional para a
Libertação (FNL), visando combater os inimigos e a opressão a que eram
submetidas, e os ritos religiosos como forma de se aproximar das divindades e
obter os pedidos desejados (apresentados a partir do excelente exercício de
estranhamento, possibilitado pelo distanciamento natural, feito pelo autor) são
alguns pontos abordados por Hamilton, entre as recordações de sua passagem
pelos hospitais do Vietnã.
Táticas e atos militares dos Estados Unidos, morte
indiscriminada de habitantes das regiões durante os confrontos, o papel dos americanos na derrota de seu país, vinculados à comprometida busca pela
informação, levam o leitor a uma ampla compreensão acerca da Guerra do
Vietnã, sob o ponto de vista de Hamilton, que experimentou,
segundo suas próprias palavras, o amargo gosto da guerra.
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