Mais do mesmo
Simplesmente Acontece
– Quem aprecia cinema sabe que, em larga escala, as histórias produzidas
atualmente visam o lucro. Para alcançá-lo, a equipe se adéqua apenas às
exigências do mercado e elabora longas-metragens conhecidas como blockbusters,
que, fatalmente, atrairão grande quantidade de pessoas para as salas espalhadas
pelo mundo. Não há preocupação em cumprir um dos maiores papéis da arte:
envolver o espectador a ponto de produzir reflexões e discussões a partir do
que é mostrado, como ocorre tanto em filmes estrangeiros — Efeito
Borboleta (2004),
de Eric Bress e J. Mackye Gruber — quanto em
brasileiros — Solidões (2013), de Oswaldo Montenegro.
No entanto, a relação esperada entre arte e público não é uma
das preocupações presentes em “Simplesmente acontece”, dirigido por Christian
Ditter. O roteiro, adaptado do livro homônimo de Cecelia Ahern, abusa das
fórmulas repetitivas e enjoativas sobre o final da adolescência e novas
experiências de personagens entre 18 e 30 anos, sempre focando em desencontros
amorosos. Não há novidades no enredo que possam ser aproveitadas e extraídas da
história sem temperos e maiores atrativos, podendo levar o espectador ao tédio
com apenas vinte minutos de filme.
A história se passa na Inglaterra e nos Estados Unidos. Dois
jovens, Rosie (Lily Collins) e Alex (Sam Claflin) são alunos da mesma escola.
Os personagens, adolescentes no começo da história, são amigos desde a
infância. Mas, como esperado em filmes de comédia romântica, ambos nutrem
sentimentos até então impossíveis de serem concretizados. Ela namora outros
rapazes, assim como ele mantém relacionamentos com outras meninas, e nenhum dos
dois deseja ceder ao romance, sendo este o atrativo para os admiradores do
gênero.
Ambos querem sair da Europa para a América do Norte com o
objetivo de estudar. Ela visa a Universidade de Boston e ele, Harvard. Ao ser
aprovada na instituição, Rosie descobre que está grávida e abre mão do seu
sonho de cursar Hotelaria. Alex, sem saber da situação da amiga, parte para
outro continente e promete esperá-la. A garota, então, dedica-se à filha Katie.
Mas o amor platônico pelo rapaz não é esquecido, e eles continuam a se
corresponder periodicamente. O desenrolar da história, como anseiam os
espectadores envolvidos com o sonhado namoro dos personagens — tática usada por
escritores, roteiristas e demais criadores para manter o público preso à
narrativa — culmina no esperado fim para os longas-metragens do estilo.
Ao longo do filme, determinadas sequências indicam outros
possíveis caminhos mais interessantes para a história, como as consequências da
morte do pai da protagonista e o impacto da gravidez na vida da jovem, que
troca os estudos pelo papel de mãe em tempo de integral.
Uma dessas cenas mostra o diálogo entre os personagens, no
qual Rosie explica a Alex o motivo de não ter contado sobre o nascimento de sua
filha. A protagonista diz ao amigo que esta seria a única forma de alguém continuar
a vê-la como Rosie, e não como uma estranha. A conversa demonstra a dificuldade
de amadurecimento da mulher, que não consegue se enxergar, agora, como adulta e
gostaria de manter, por meio do amigo, um vínculo com o passado, representando
o sentimento de meninas despreparadas para a maternidade.
A despeito da existência de outras perspectivas para a
história, o roteiro de Juliette Towhidi deságua no previsível (o amor mal
resolvido do casal) e afunda na entediante mesmice, indo de encontro às
possibilidades narrativas que poderiam ser exploradas para melhor
aproveitamento do filme.
Publicado na coluna Bagdá Café, do jornal Folha da Manhã, e no Blog Opiniões no dia 18 de março.
Publicado na coluna Bagdá Café, do jornal Folha da Manhã, e no Blog Opiniões no dia 18 de março.
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