Seu Francisco
Chico Buarque |
Francisco Buarque
de Hollanda. 70 anos. Chico. Conhecido pelos belos olhos azuis e palavras
poéticas e certeiras com que descreve o mundo. Buarque. Compositor, escritor,
autor de peças de teatro, cantor. Conhecedor da alma humana. Homem que, sem
dúvidas, carrega a essência da mulher. Interpreta-a e descreve-a com precisão
ímpar. Entendedor do lado humano romântico e, também, sombrio.
Político, amante,
cronista, trovador, malandro. Paris, Itália, Budapeste, Rio de Janeiro.
Outrora, Julinho da Adelaide para se esquivar da acirrada marcação dos censores
do período militar. Contornou-os e deu aos brasileiros grandes canções que,
ainda hoje, são tocadas em fones de ouvido e caixas de som. Continua a encantar
jovens e velhos. Tímido. Durante anos de sua carreira, recusava-se a subir aos
palcos sem a presença dos músicos do grupo MPB-4. Noutros tempos, não aceitava
se apresentar sem cigarros e bebidas. Acostumou-se, mas raras vezes sai de seu
silêncio para breves contatos com o mundo e os fãs.
Chico, com o seu
brilhante talento para juntar palavras e enternecer corações, é um dos mais
completos artistas brasileiros. Em suas músicas, ele narra vidas de pessoas
comuns. Suas letras, lidas e sentidas enquanto vivemos o momento presente,
terão outro significado trazido pelo amanhã e suas novas circunstâncias.
Profundo e engajado, o músico alcança todos os brasileiros e representa, por
meio de sua obra, os mais nobres e pobres sentimentos devido a sua aguçada
sensibilidade para olhar, ouvir e interpretar o mundo ao redor.
De "Eu te
amo", hino dos apaixonados, a "Meu caro amigo", que conta o
drama dos exilados, Buarque abriga diferentes realidades em sua arte e as
mostra aos seus fãs. Envolve-os. Leva-os a sentir intensamente. A súbita
partida de Stuart Angel e a dor de sua mãe Zuzu, transformada em Angélica,
sufoca o ouvinte impotente diante da angústia da busca pelo filho. Aprendemos
que, apesar de você, amanhã há de ser outro dia. E Lily Braun mostra que amores
podem se transformar em prisões.
Em "Gota
d'água", o coração, que precisa ser deixado em paz por ter se tornado um
pote de mágoas, é alvo de sofrimento. Em cena, na primeira montagem, Bibi
Ferreira traz à vida Joana, abandonada pelo marido Jasão após 10 anos de união.
"Antes de Joana, ele era a merda em negativo". Interessado apenas em
ganhar dinheiro com seu samba, Jasão larga a esposa e a troca por Alma, cujo
pai é grande incentivador de sua carreira. Amargura, vingança, ódio e veneno
permeiam a obra.
Ele também faz
cinema e pode ser mil, mas não existe outro igual. Benjamim e Budapeste, duas
de suas obras literárias, foram transformados em filmes pelas mãos dos
diretores Monique Gardenberg e Walter Carvalho, respectivamente. Ambos
brilhantes, tais quais o autor. Vagam entre dúvidas, covardia, abandono e o
insuportável peso da vida.
Por meio do olhar
buarqueano, vemos o mundo apresentado e representado nas diferentes formas de
arte. Cinema, música, literatura e teatro reunidos em um homem. Sentimos,
entendemos sentimentos e compreendemos verdades indubitáveis. Buarque não
envelhece. Ele se renova a cada letra minuciosamente elaborada, a cada obra
publicada. Chico é indispensável e recomendado em doses excessivas para todos
os momentos, haja o que houver. Palavra de mulher
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