À música brasileira

7/21/2015 0 Comments

Tom Jobim, Vinícius de Moraes e Chico Buarque

Em uma entrevista, o cantor, compositor e escritor Chico Buarque afirmou que a música "Every time we say goodbye", de Cole Porter, é a mais bonita do mundo. Com declarada e franca ousadia, eu discordo. Para mim, mera admiradora de acordes e canções, a música brasileira é a mais bonita do mundo. Não há, pelo planeta, composições que tenham me arrebatado mais do que as da terra do pau-brasil.

Cresci ouvindo Chico, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Elis Regina, Cazuza, Rita Lee, Tom Jobim, Vinícius de Moraes e outros grandes nomes do cenário brasileiro. Enquanto minha mãe limpava a casa ou cozinhava, lá estava o rádio, ecoando belas vozes e composições que já perturbavam a pequena e gordinha criança que fui.

Desde menininha, sei que têm dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu e que, a qualquer momento, uma roda viva pode carregar o destino para lá, trazendo reviravoltas. Apesar disso, sempre mantive os olhos cheios de cores e o peito cheio de amores (muitos vãos, outros não). Todas as fases da minha vida estão entrelaçadas a diversas canções. A adolescência, em grande parte, foi embalada por rock. No entanto, o ritmo sempre ficava em segundo plano. Minhas buscas eram por letras que fizessem sentido para o momento em que eu vivia. Novamente, então, deparei-me com a música brasileira. Entre as bossas e fossas, redescobri Chico, que caminha junto a mim desde o final da fase mais rebelde.

Suas canções me trouxeram experiências que nunca havia tido a oportunidade de vivenciar. E essas experiências aconteciam (e continuam a acontecer) em meu interior. Com fones no ouvido e olhar perdido e vago, meu silencioso coração era mexido e remexido pelas letras, assim como meus pensamentos, unindo os pedaços de mim. Por meio do carioca, comecei a conhecer ainda mais outros artistas.

Ouvia canções nas vozes de diversos músicos do país. Elas pareciam sob medida para mim, que passei a observar melhor o mundo ao meu redor e perceber que, às vezes, tudo é lindo e, às vezes, tudo engana. Entre confrontos e conflitos, refugiava-me na música brasileira. Compreendi, graças a Belchior e Elis, que, apesar das desavenças, sempre seremos os mesmos e viveremos como nossos pais, por mais que queiramos ir contra eles. No fim, somos todos iguais nesta e em outras noites.

Tom e Vinícius me trouxeram a alma do Rio de Janeiro sem que eu precisasse sair de casa. Ipanema, transfigurada em sua garota, tornou-se velha amiga. Mas, apesar de existirem sol e alegria, há, também, tempestade. Afinal, a felicidade é como a pluma que o vento vai levando pelo ar. Voa tão leve, mas tem a vida breve. Precisa que haja vento sem parar. E é o mesmo Vinícius, capitão do mato, poeta e diplomata, o branco mais preto do Brasil da linha direta de Xangô – junto a Baden Powell –, quem reacende diariamente as esperanças em meu peito por me deixar saber que não há necessidade de chorar nem de sofrer, pois há sempre um novo amor em cada novo amanhecer.

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